O Culto Cristão

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Rm 12.1)  

A idéia de culto racional contrasta com o formalismo sem conteúdo do templo. A palavra racional vem do verbo grego λογικος / logicos, isto é, de acordo com a natureza essencial. Nesse caso, genuinamente espiritual (Cf. 1ª Pe 2.5). A luz da palavra de Deus e da visão que esta nos oferece, precisamos entender melhor a logicidade do culto cristão, que nada tem haver com racionalismo, embora inclua a razão: O que ele é? Quais as dimensões espirituais nele contidas? São questões que vamos tentar responder sobre este tema.

I – O QUE É O CULTO CRISTÃO?

1. Liturgia ou programação humana?

Podem a priori parecer a mesma coisa. Freqüentemente compreendemos liturgia com aquela ordem seqüencial que os pastores ou dirigentes de culto programam. Por este ângulo é uma programação. Contudo, liturgia não se resume a mera ordem do culto e sim a tudo o que nele fazemos de acordo com a vontade e propósito de Deus. A palavra grega λειτουργία / leitourgía = liturgia, foi tomada por empréstimo do sistema político grego e significa serviço público. Transliterando-a para o nosso conceito de culto é um serviço público que prestamos a Deus. 

2. Palavras chaves

Convém mencionar que estamos tratando o culto cristão, como aquele ato litúrgico no qual o povo de Deus se reúne com o propósito de expressar sua adoração coletiva. Três palavras chaves devem ser consideradas relevantes no ato litúrgico e as três indicam tempo:

  1. χρόνος / chrónos = Tempo histórico. Algumas questões essenciais: 1) Quais as circunstâncias históricas que estamos vivendo? 2) Como o mundo e a sociedade podem ser afetados pelo culto (serviço) que prestamos a Deus? 3) Qual é o contexto cultural, social e econômico do momento histórico? Estas questões são importantes para não termos uma liturgia alienada e anacrônica, onde os componentes acima são ignorados.

  2. καιρός / kairós = Tempo de oportunidade. Quando a visitação divina é especial e especifica. A igreja é o recipiente que fornece este espaço e condições. Não um auditório, mas um lugar onde a glória e presença de Deus são manifestadas (Comparar 2ª Cr 7.1-2 com Ef 3.14-21).

  3. αεων / aeon = Eternidade. A questão que pode ser ventilada é como nossos cultos moldam o ambiente e as pessoas para a eternidade. É necessário ter uma compreensão renovada do culto cristão por este aspecto, principalmente no estimulo ao amor às boas obras (Hb 10.24-25) e na celebração da ceia do Senhor (1ª Co 11.26).

3. É uma convocação solene

O aspecto solene das convocações diz respeito a importância do ato em si como cerimônia. Deus instrumentaliza a liderança para estas convocações (Cf. Joel 2.16). Algumas explicações do ato solene:

  1. A palavra igreja (do grego εκκλησια / ekklésia) Tem um sentido de “os chamados para fora” para ouvir a Deus e andar nos seus caminhos. A palavra hebraica que mais traduz o conceito de igreja no Antigo Testamento é gahal (Cf. At 7.38). Em 2ª Sm 20.14: “Ajuntaram” (Hebraico gahal). No texto o povo foi reunido para guerrear. Ef 6.10-20 traz-nos este conceito de reunião de guerra. Todavia a guerra espiritual não se realiza somente nas reuniões. Elas visam: 1) O fortalecimento pela sujeição (Ef 6.10, 18). 2) A edificação mútua (Jo 20 e 1ª Co 14-26-33). 3) A supervisão para adestramento e estratégias (Ef 4.11-16). Nossos cultos e reuniões devem nos fortalecer para pregar o evangelho do reino e libertar as pessoas cativas (Ef 6.20 e At 26.18).

  2. Natureza no ajuntamento solene (Is 1.13 e Am 5.21). Nestes textos a palavra ajuntamento é “acereth” significando restringir, limitar, confinar. Deus tem um propósito para o ajuntamento que limita, restringe e confina a determinadas pré-condições: a) O ajuntamento é para testemunho de justiça (Is 1.17 e Am 5.22-23); b) A religiosidade que não implica em justiça deve ser abolida do ajuntamento solene (Is 1.14-15; Am 5.11-12 e Am 5.22-23); c) O ajuntamento solene elimina as desigualdades sociais (Gl 3.28-29; Tg 2.1-13 e At 4.32-34); d) O pentecostes foi uma colheita preparada por Deus. Em certo sentido, Ele descreve a virtude essencial das pessoas que Deus quer ajuntar: “Homens piedosos de todas as nações debaixo do céu” (At 2.5).

O culto cristão deve, portanto expressar a teologia vivencial da comunidade, isto é, sua união, fé, objetivo e práticas. Não pode ser alguma coisa alienada, feita sem obediência e temor reverente (At 2.42-47).

4. O que deve acontecer em nossos cultos?

  1. Proclamação Kerigmatica (do grego κηρυγμα / kerygma = pregação, proclamação) que apele para a fé. Fp 2.5-11 é um hino cristão composto para os cultos da igreja no primeiro século;

  2. Edificação pelo louvor e conversação (Ef 5.19 e Cl 3.16);

  3. Pastoreamento mútuo, cura de feridas, aconselhamento, onde as pessoas são acolhidas (Rm 15.7) e através do exercício dos dons espirituais (1ª Co 14.26-31);

  4. Comunhão pelo encontro de irmãos e celebração da ceia (At 2.42-44 e 1ª Co 11.20-26);

  5. Eucaristia (do grego εύχαριστία / eucharistía = Ações de graça). Celebração (Sl 95.1-3 e Sl 100.1-5).

II – DIMENSÕES ESPIRITUAIS DO CULTO CRISTÃO (Is 6.1-8)

1. Dimensão histórica (Is 6.1)

Isaías teve uma visão do trono de Deus e por este foi comissionado “no ano da morte do rei Uzias.” Uzias foi um rei próspero, piedoso e poderoso, até que por um ato de desobediência veio a morrer leproso (Cf. 2ª Cr 26.1-23). Para Isaías isto deve ter sido um choque. Entretanto, Deus continuava no trono e tinha tudo sob seu controle. Aconteça o que acontecer, nossos cultos devem exaltar o Senhor Jesus Cristo que se encarnou e comanda a história, se quisermos ser relevantes nesta dimensão. O templo (santuário celestial) é a igreja, onde via contemplação do Senhor somos histórica e experimentalmente transformados a imagem do Senhor pelo Espírito Santo (2ª Co 3.18).  

2. Dimensão Angélica (Is 6.2-3)

Os anjos estão presentes em nossos cultos prontos a estimular nossa relação e visão que temos de Deus: “Santo, Santo, Santo.” Em 1ª Co 11.10 o véu como expressão cultural de submissão da mulher é exigido por causa dos anjos.

3. Dimensão horizontal de comunhão (Is 6.3)

“Chamavam uns aos outros.” Um estímulo a dependência mútua uns dos outros e de adoração comunitária.  

4. Dimensão escatológica (Is 6.3)

“... toda a terra esta cheia de sua glória.” Quando o plano futuro de Deus é revelado, ficamos cheios de visão profética que orientam nossa conduta no presente (Cf. Pv 29.18).  

5. Dimensão restauradora (Is 6.4-6)

  Is 6.4 - “As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.” = Presença e glória do Senhor;

Is 6.5 - “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” = Confissão de pecados e quebrantamento;

Is 6.6 – “Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz.” = Perdão e purificação.

  6. Dimensão comissionadora (Is 6.8)

Is 6.8 – “Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim.” A voz e a comissão do Senhor (Cf. Mt 28.18-19). Os cultos cristãos devem nos habilitar para respondermos aos desafios que Deus nos faz na execução e consecução de sua obra.

Sendo assim, liturgia é um serviço público que prestamos a Deus através de nossos cultos. A ordem e decência são por Ele estabelecidas e por nós obedecidas com temor, reverência, santidade e singeleza. Desta maneira a igreja é edificada, o reino de Deus é expandido. “Ao Senhor Deus, triuno e excelso: Toda a glória, agora e para todo o sempre.”

 

Tópico: O Culto Cristão

  • Data: 12-11-2013 De: Pedro

    Assunto: Culto Cristão

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